Mediocridade

As pessoas agiam assim e pronto... Com ele as coisas eram sempre desse jeito estúpido. Uma merda! Não conseguia captar as entrelinhas e em cada nova aventura ele acabava por se foder. Logo ele, comunicativo, gente boa, pau-pra-toda-obra, o camarada.


Ingenuidade, era o que os poucos amigos diziam. Mas que porra é essa, se até mesmo os amigos chegados acabavam vez por outra explorando-o. Ele não aguentava mais aquilo. Se perguntava: Por que é assim? Serei sempre o aparo do escarro da boca de quem me apedreja (sim... ele lia Augusto dos Anjos) ? E as repostas vinham sempre, cuspidas.


Precisava fazer alguma coisa. Não... não... não tinha planos de sucídio, ou de matar alguém, não leu o "Apanhador no campo de Centeio" ou livros da Anne Rice, era só um cara normal. Queria ser livre.E o pior, sua prisão era imposta por ele mesmo.


Dai surgiu o plano. Ficava cada vez mais quieto. Nas reuniões do trabalho entrava mudo e saia calado. Em casa, era só monossilábico. Foi aos poucos conquistando sua meta. Cada vez menos era lembrado, o telefone não tocava mais. E três anos depois do início, a glória: ninguém lhe telefonou no despertar matinal do seu quadragésimo aniversário.


Tinha conseguido. Resolveu se tornar um ermitão, e escolheu o caminho da mediocridade, afastou-se dos ruins, mas perdeu os bons. Não se lamentava, nada na vida é fácil, agora aos setenta anos, no leito do asilo, aguardava sozinho a chegada da morte.

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